Geo Stoned!

Este blog nasce fruto de duas grandes paixões que fazem de mim quem sou. Em primeiro lugar, o cenário em que nasci - Açores - paraíso no meio do Atlântico; em segundo a geologia, ciência que escolhi como profissão, provavelmente consequência do meu fascínio pelas ilhas.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mistérios do Ilhéu

Ser ilhéu é ouvir a voz que nos rasga o peito
Que aquece o nosso ser como lava a arder
É sentir necessidade de lá estar, e ao mesmo tempo,
querer olhar mais além....como quem espreita por uma janela!

Ser ilhéu é sentir a chuva, o barulho do vento e do mar
Como se fosse mãe a chamar..
Aquele odor sonoro que nos escava, como linha de água
marcando seu relevo
deixando sua marca
Mostrando seu amor, sua dor, sua persistência!

Sou como a lava que sinto, contornando relevos
Com fim definido....percurso incerto!
Como a lava brota da Terra, o amor brota de mim
amor pela Terra e pela lava...

Sou como a ilha, cheia de falhas e pedregulhos...
Cada pedra sua história, sua glória, seu vulcão
Um novo saber...

Meu Pico Rachado sempre presente
Como amigo nunca ausente
Quer o intuito seja mera contemplação
Ou simples confissão
Lá em casa é como um templo
Num lugar longínquo
Apenas perto do coração!

E a noite....a noite nas ilhas!!!
Nada tem de obscuro e sombrio....tudo é prata e bruma
Tudo é luz e sonhos!
Cada sonho cada candeia bem pregada no manto azul
O céu engloba-nos e eleva-nos
Deparando-se a tal janela!

Estar loge é ver a ilha de uma nuvem...
Recordar cada cerrado
Cada ermida ou império
Cada vulcão ou procissão
Cada ribeira, cada canada....

Caldeira de sonhos com lagoas que os espelham
e tornam realidade
Com queimados que as habitam
Com verde que brilha e água que pinga
Negrume do mistério
Crosta de lava como pão no forno!

Torresmos de cabinho
Chicharros fritos
Sopas do Espírito Santo
Alcatra
Sabores, odores e saberes
Cominhos, mar, hortelã, canela e vinha d'alhos!

Salomé Meneses

sábado, 20 de junho de 2009

O canto da Génese Insular

" ...Era no tempo em que as pedras tinham uma configuração e o tamanho de ovos de dinossauro. Os esqueletos dos pequenos bichos, até então desaparecidos, eram desenterrados no seio dos búzios e da rocha dos fósseis. Tudo ali tinha o aspecto remoto e perpétuo da água, pois as próprias crateras vulcânicas, habitadas por ninhos de murganhos e salamandras apresentavam as arestas limadas pelo torno das grandes chuvas, datando todas elas do tempo do patriarca Noé."

João de Melo
in O meu mundo não é deste Reino (1983)

Este excerto foi retirado de uma lenda que explica a descoberta e povoamento do lugar da Achadinha, na Ilha de S. Miguel (Açores). O cenário inicial é de uma génese própria insular.
Não sei se esta lenda tem algum fundamento científico, no entanto será interessante voltar ao lugar da Achadinha com uma abordagem geológica.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Faixa Piritosa Ibérica

A Faixa Piritosa Ibérica (FPI) é uma província matalogenética que se situa na zona SW da Peninsula Ibérica. É a mais importante do nosso território e constitui a principal fonte de recursos metálicos do nosso país. Ostenta 250 Km de comprimento por 30 a 60 Km de largura e encontra-se dividida em três unidades principais tendo em conta diferentes fases de formação.

Da base para o topo temos o Grupo filito-quartzitico; Complexo Vulcano-Sedimentar; Grupo do Flysh do Alentejo (ou CULM).

O Grupo filito-quartzitico é essencialmente constituído por rochas sedimentares, como os filitos, quartzitos, quartzovaques, etc, depositados em meio marinho à aproximadamente 360 M.a..

O Complexo Vulcano-Sedimentar caracteriza-se pela presença de rochas sedimentares (xistos siliciosos, xistos negros, jaspes, chertes) e de rochas vulcânicas ácidas e básicas (vulcanitos e lavas de composição riolítica, espelitos e rochas vulcano-clásticas. Esta unidade testemunha a ocorrência de actividade vulcânica no fundo do mar à cerca de 350 M.a..

Finalmente o grupo do Flysh do Alentejo apresenta uma sequência de sedimentos turbidíticos (grauvaques, siltitos, xistos e conglomerados com aproximadamente 340 a 330 M.a..

Os jazigos minerais presentes nesta província resultam maioritariamente da circulação de fluidos hidrotermais entre as rochas vulcânicas e sedimentares aí presentes, desencadeando aí processos físico-quimicos (lixiviação, troca iónica e até fracturação por pressão de fluidos). A percolação destes fluidos culmina na sua descarga inevitável, neste caso em ambiente marinho, levando à acumulação de massas de sulfuretos ricos em Fe, Cu, Zn, Pb, Ag, Au.

Na FPI ocorrem ainda depósitos de óxidos de Mn (exemplo da mina de Soloviejo) e de Fe e mineralizações filonianas de Cu, Sb, Pb e Ba. Os minérios da Faixa Piritosa possuem ainda teores apreciáveis em outros metais que podem ser explorados como sub-produtos, tais como Co, Ge, In, Ga e Cd.

A dimensão dos jazigos de sulfuretos maciços na FPI é muito variada, e vai desde as centenas de Mt (Neves Corvo e RioTinto) até apenas 1Mt (Montinho), estes depósitos estão normalmente associados as litologias do Complexo Vulcano-Sedimentar.

A exploração destes jazigos pode ser considerada histórica, e podemos afirmar que constitui uma mais valia incontornável e uma vantagem de todos os povos que por aí passaram.

Desde o Calcolítico, à 5000 anos atrás, que esta província é determinante para a sobrevivência e desenvolvimento. A exploração destes depósitos ocorre desde então, mas foi por volta do séc. VIII a.C. que se intensificou, com a presença de povos como os Finícios e Cartagineses. Mais tarde, durante o Império Romano, vários «chapéus de ferro» foram explorados, como RioTinto (Espanha), Aljustrel e S. Domingos (Portugal). A partir da segunda metade do séc. XIX deu-se um aumento bastante significativo da actividade mineira, que culminou na abertura de várias dezenas de minas. Em Portugal, o cenário mudou no séc. XX onde a mineração ficou condicionada à evolução dos mercados de metais e houve um decréscimo entre os anos 80 e 2004, período em que apenas a Mina de Neves Corvo se mantinha em operação.

Em Portugal a industria extractiva responde de forma eficiente à procura de matérias primas, esta industria tem uma assinalável importância regional e representa cerca de 0.5 a 0.7 do PIB do nosso país.

Como podemos inferir a FPI tem um elevado protagonismo quer social quer económico, no entanto para um bom funcionamento desta rede de oferta e procura são necessárias políticas de desenvolvimento sustentável que protejam o equilíbrio natural dos sistemas e as próprias regiões. Essas politicas resumem-se em 4 premissas: 1. extracção de minérios de Cu , Zn, Sn, Au, Ag; 2. prospecção de jazigos metálicos; 3: recuperação ambiental das áreas mineiras afectadas por drenagem ácida; 4: dinamização do turismo temático geológico e mineiro. Portugal é um excelente exemplo nesta área, com representação em Neves Corvo, onde se pratica o chamado green-minning!

A título de curiosidade, a FPI é candidata a património mundial devido às suas caracteristicas excepcionais!!!

domingo, 14 de junho de 2009

Furnas do Enxofre

"O cheiro a enxofre, os tons avermelhados - variando entre o vermelho rubro e o ocre - e a vegetação húmida fundem-se na paisagem das Furnas do Enxofre."
Situadas no interior da ilha Terceira, constituem um campo fumarólico com uma fauna e flora riquíssimas. Atingem temperaturas bastante elevadas - aproximadamente 95º à superfície e cerca de 130º a meio metro de profundidade. E para aqueles que não são dos Açores: não!, aqui não se faz cozido, mas sim nas Furnas em S. Miguel.
São consideradas importantes para o conhecimento da origem geológica dos Açores.
Vejam o filme e deliciem-se, só falta o cheiro a enxofre, já que até se ouvem os pássaros.
Prometo prolongar este tema, já que por aqui se respira a Terceira.




sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Palagonite e o Ilhéu das Cabras

A palagonite é um material mineral rico em ferro, comum em ambientes de origem hidromagmática, resultante da alteração de materiais vítreos de natureza basáltica, em presença de água.
A palagonite pode ser considerada uma rocha (há quem a considere um mineralóide), tem cor clara, é friável e de baixa densidade, geralmente ocorre em camadas consolidadas de espessura variável, que pode ir de alguns milímetros a muitos metros.
Dependendo da temperatura e da abundância de água, a palagonite pode-se formar por um processo designado palagonitização, em períodos que vão desde alguns anos, meses, a milhares de anos após a erupção dos vulcões que lhes dão origem. O Ilhéu das Cabras, na ilha Terceira, é exemplo de um cone vulcânico palagonitizado.

O Homem e o Carbono

O aquecimento global é um grave problema já bem instalado na sociedade actual e que tem sérias consequências a vários níveis. Afecta irreversivelmente os oceanos, o clima e consequentemente o habitat de várias espécies. Leva a um aumento progressivo do nível médio das águas do mar, degelo e expansão termal dos oceanos, o que provoca enchentes, erosão marinha e contaminação dos reservatórios de água potável. Todos estes factores terão um sério impacto sobre a população a nível mundial.

O aquecimento global é causado pelo chamado efeito de estufa, ou seja, a quantidade de energia (Solar) que entra na atmosfera é maior do que aquela que sai, resultando num aumento gradual da temperatura na superfície terrestre. A excessiva concentração de dióxido de carbono e outros gases na atmosfera reduz significativamente a libertação de calor para o espaço, provocando o sobreaquecimento do planeta. Ganha relevância, cada vez mais, a aposta de diversos países na redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

A maior responsabilidade na emissão dos GEE é atribuída à combustão dos recursos fósseis, como o petróleo ou o carvão, no entanto, a energia é um bem essencial, tanto económico como social de todas as populações. As exigências cada vez maiores do consumo de energia, a nível mundial, levam à crescente utilização de recursos energéticos com consequências nefastas para o ambiente.

O carbono, apesar de aqui parecer apresentado como o mau da fita, é o quarto elemento mais abundante no Universo e circula no nosso planeta através da hidrosfera, litosfera e atmosfera num ciclo naturalmente bem controlado. É a actividade antropogénica, nomeadamente a queima de combustíveis fósseis (já referida) e a desflorestação, que injecta novos fluxos de carbono neste ciclo descontrolando-o. Estas acções transferem mais CO2 para a atmosfera que aquele que é possível remover naturalmente, causando assim um aumento das concentrações atmosféricas de CO2 num curto período de tempo.

O carbono começou a ser um grave problema ambiental aquando da Revolução Industrial no séc. XIX, com o recurso sistemático à combustão da hulha para gerar vapor. Desde então, e até aos dias de hoje, que a economia humana se centra e sustenta no consumo de hidrocarbonetos como forma de energia.

Como inteligentemente podemos deduzir, a solução está numa mudança drástica na forma como obtemos energia, dando maior destaque a energias alternativas.

Surge ‘’recentemente’’ o conceito de «economia do hidrogénio», que é proposto para interromper o ciclo continuo de emissões de CO2. O hidrogénio é limpo na queima, não acarretando assim nenhum problema ambiental. No entanto tem desvantagens, uma vez que não existe na natureza na sua forma pura e para o obter é necessário despender mais energia do que aquela que podemos conseguir utilizando o H como combustivel.

É assim evidente que o futuro da sustentabilidade energética reside na utilização de energias renováveis como a energia das ondas, eólica, solar, geotérmica, entre outras. Que devem ser aproveitadas consoante a sua disponibilidade nas diversas áreas geográficas.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Enquadramento Tectónico - Açores


Os Açores situam-se na junção tripla das placas Euroasiática, Africana e Norte Americana. As ilhas, dispersas ao longo de importantes acidentes tectónicos de orientação geral WNW e ESE, emergem de uma grande zona submarina pouco profunda e de topografia irregular, o "Plateau dos Açores".
O grupo Ocidental (Flores e Corvo) está localizado para W da Crista Médio Atlantica (CMA), enquanto que os grupos Central (Terceira, Graciosa, S. Jorge, Pico e Faial) e Oriental (S. Miguel e Sta. Maria) estão localizados na chamada microplaca dos Açores - uma zona ligeiramente triangular de vulcanismo activo e elevada sismicidade.
No geral a microplaca dos Açores está limitada a W pela CMA, a S pela Zona de Fractura Leste dos Açores - Falha da Glória e pelo Rifte da Terceira a N.
Nota-se que enquanto os ramos N e S da junção tripla estão bem estabelecidos (CMA) e são aceites, a localização geográfica e natureza do terceiro ramo desta junção são ainda geradores de controvérsia, apesar dos diversos modelos propostos para explicar a actual cinemática desta região do Atlântico.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O Vulcão da Serra de Sta. Barbara


Este vulcão, com 1021 m de altitude é o maior vulcão da ilha Terceira.
A Serra de Sta. Barbara abranje toda a zona W da ilha Terceira e compreende um estratovulcão com cerca de 13 Km de diâmetro e uma altitude de 1021m. No topo deste edificio vulcânico nota-se uma caldeira com um diâmetro da ordem dos 2 Km, no interior da qual se encontram alguns domos, espessas escoadas lávicas de natureza traquitica (rocha de granularidade muito fina constituida essencialmente por feldspato alcalino, com pequenas quantidades de minerais máficos, tais como anfibolas e biotite) - denominadas por coulées - e mais para W algumas lagoas de pequenas dimensões.
Os flancos deste vulcão encontram-se bastante ravinados, com uma rede de cursos de água do tipo centrifuga, implantada principalmente nos flancos N, S e W.
Os cones vulcânicos secundários deste estratovulcão estão dispostos radialmente ou sobre acidentes tectónicos de orientação geral NW-SE. Entre muitos estão o Pico das Faias, o Pico do Teles, Pico dos Padres, Pico das Dez, entre outros. Formando alinhamentos encontram-se, por exemplo o Pico do Negrão, Pico da Lagoinha, Pico Rachado, etc.
A caldeira deste estratovulcão é maravilhosa e recomenda-se uma visita.

Açores - Sabe mais!!


Os Açores são um arquipélago português do Atlântico nordeste, formado por nove ilhas; tem uma superfície total de 2334 Km"2 e 241 762 habitantes.
Localiza-se exactamente na intersecção da Crista Atlântica com a zona de fractura Gibraltar -Açores.
Formado por nove ilhas distribuidas por 3 grupos:
- Grupo Ocidental (Corvo e Flores)
- Grupo Central (Graciosa, Faial, Pico, S. Jorge e Terceira)
- Grupo Oriental: (S. Miguel e Sta. Maria)
Todas as ilhas do arquipelago têm origem vulcânica, processo que começou com as primeiras erupções do Miocénico e que teve a mais recente expressão no vulcão dos Capelinhos (1957-1958).
O vulcanismo e a sismicidade são fenomenos que ainda estão presentes no dia-a-dia da população: as fumarolas persistentes em algumas ilhas, as águas ferventes, as furnas de fumo e enxofre.
O clima é tipicamente temperado marítimo, temperaturas suaves com baixas amplitudes térmicas anuais e diárias, humidade relativa muito elevada e precipitação abundante, predominante entre Novembro e Fevereiro.
Nesta região, as fontes de energia renováveis, como a hidrica, a geotérmica e a eólica têm registado evoluções positivas.