Este blog nasce fruto de duas grandes paixões que fazem de mim quem sou. Em primeiro lugar, o cenário em que nasci - Açores - paraíso no meio do Atlântico; em segundo a geologia, ciência que escolhi como profissão, provavelmente consequência do meu fascínio pelas ilhas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Faixa Piritosa Ibérica

A Faixa Piritosa Ibérica (FPI) é uma província matalogenética que se situa na zona SW da Peninsula Ibérica. É a mais importante do nosso território e constitui a principal fonte de recursos metálicos do nosso país. Ostenta 250 Km de comprimento por 30 a 60 Km de largura e encontra-se dividida em três unidades principais tendo em conta diferentes fases de formação.

Da base para o topo temos o Grupo filito-quartzitico; Complexo Vulcano-Sedimentar; Grupo do Flysh do Alentejo (ou CULM).

O Grupo filito-quartzitico é essencialmente constituído por rochas sedimentares, como os filitos, quartzitos, quartzovaques, etc, depositados em meio marinho à aproximadamente 360 M.a..

O Complexo Vulcano-Sedimentar caracteriza-se pela presença de rochas sedimentares (xistos siliciosos, xistos negros, jaspes, chertes) e de rochas vulcânicas ácidas e básicas (vulcanitos e lavas de composição riolítica, espelitos e rochas vulcano-clásticas. Esta unidade testemunha a ocorrência de actividade vulcânica no fundo do mar à cerca de 350 M.a..

Finalmente o grupo do Flysh do Alentejo apresenta uma sequência de sedimentos turbidíticos (grauvaques, siltitos, xistos e conglomerados com aproximadamente 340 a 330 M.a..

Os jazigos minerais presentes nesta província resultam maioritariamente da circulação de fluidos hidrotermais entre as rochas vulcânicas e sedimentares aí presentes, desencadeando aí processos físico-quimicos (lixiviação, troca iónica e até fracturação por pressão de fluidos). A percolação destes fluidos culmina na sua descarga inevitável, neste caso em ambiente marinho, levando à acumulação de massas de sulfuretos ricos em Fe, Cu, Zn, Pb, Ag, Au.

Na FPI ocorrem ainda depósitos de óxidos de Mn (exemplo da mina de Soloviejo) e de Fe e mineralizações filonianas de Cu, Sb, Pb e Ba. Os minérios da Faixa Piritosa possuem ainda teores apreciáveis em outros metais que podem ser explorados como sub-produtos, tais como Co, Ge, In, Ga e Cd.

A dimensão dos jazigos de sulfuretos maciços na FPI é muito variada, e vai desde as centenas de Mt (Neves Corvo e RioTinto) até apenas 1Mt (Montinho), estes depósitos estão normalmente associados as litologias do Complexo Vulcano-Sedimentar.

A exploração destes jazigos pode ser considerada histórica, e podemos afirmar que constitui uma mais valia incontornável e uma vantagem de todos os povos que por aí passaram.

Desde o Calcolítico, à 5000 anos atrás, que esta província é determinante para a sobrevivência e desenvolvimento. A exploração destes depósitos ocorre desde então, mas foi por volta do séc. VIII a.C. que se intensificou, com a presença de povos como os Finícios e Cartagineses. Mais tarde, durante o Império Romano, vários «chapéus de ferro» foram explorados, como RioTinto (Espanha), Aljustrel e S. Domingos (Portugal). A partir da segunda metade do séc. XIX deu-se um aumento bastante significativo da actividade mineira, que culminou na abertura de várias dezenas de minas. Em Portugal, o cenário mudou no séc. XX onde a mineração ficou condicionada à evolução dos mercados de metais e houve um decréscimo entre os anos 80 e 2004, período em que apenas a Mina de Neves Corvo se mantinha em operação.

Em Portugal a industria extractiva responde de forma eficiente à procura de matérias primas, esta industria tem uma assinalável importância regional e representa cerca de 0.5 a 0.7 do PIB do nosso país.

Como podemos inferir a FPI tem um elevado protagonismo quer social quer económico, no entanto para um bom funcionamento desta rede de oferta e procura são necessárias políticas de desenvolvimento sustentável que protejam o equilíbrio natural dos sistemas e as próprias regiões. Essas politicas resumem-se em 4 premissas: 1. extracção de minérios de Cu , Zn, Sn, Au, Ag; 2. prospecção de jazigos metálicos; 3: recuperação ambiental das áreas mineiras afectadas por drenagem ácida; 4: dinamização do turismo temático geológico e mineiro. Portugal é um excelente exemplo nesta área, com representação em Neves Corvo, onde se pratica o chamado green-minning!

A título de curiosidade, a FPI é candidata a património mundial devido às suas caracteristicas excepcionais!!!

1 comentário:

Jorge Afonseca disse...

Interessante o teu artigo, deparei-me com ele por acaso a fazer pesquisa para o meu trabalho de recursos minerais, tens um blog muito fixe, continua. boa sorte